27/01/2015 18:16
Opinião - Os salários aviltantes dos agentes escolares
Carlos Giannazi*
Poucos sabem o que é um Agente de Organização Escolar. Poucos
sabem o que faz esse trabalhador operacional. Provavelmente nem os
mandatários da Secretaria estadual de Educação sabem, pois pressuponho
que, se soubessem, não permitiriam situação tão vexatória, que são os
salários aviltantes da categoria.
O Agente de Organização Escolar (nome pomposo) é o trabalhador
da Educação operacional em exercício nas escolas públicas da rede
estadual de ensino paulista que, como um verdadeiro coringa, está em
todo lugar, serve a todos e desempenha múltiplas e distintas funções.
Para quem conhece minimamente uma escola e sua dinâmica de
funcionamento, pode ter uma noção do que significa ser um coringa: abrir
e fechar portões, cuidar da movimentação dos alunos na escola nas
inúmeras atividades, manter a escola em ordem, elaborar documentos
pessoais da vida escolar de milhares de alunos, responsabilizar-se pela
folha de pagamento e cuidar da vida funcional de todos os funcionários,
acompanhar alunos em atividades distintas, cuidar de classes sem
professores, atender pais e público em geral, fazer matrículas, digitar
notas de alunos nas respectivas fichas virtuais, cuidar da disciplina
nos intervalos etc. Tudo isso " e muito mais " por um salário aviltante,
vergonhosamente indicado no contracheque, em torno de R$ 900, e uma
ajuda de refeição (vale-coxinha) que mal dá para um lanche.
Nada a estranhar se não estivéssemos falando do Estado mais
desenvolvido da nação, com orçamento bilionário e que, em tese, não
deveria pagar salários tão baixos. Nada a dizer se não estivéssemos
mencionando a secretaria com o maior orçamento do Estado e dirigentes
que incessantemente falam em valorizar os profissionais da Educação e
melhorar suas condições de trabalho. Posturas que são extremamente
necessárias por uma razão muito simples: isso reflete na qualidade do
serviço prestado. Sim, repito, para que não esqueçamos esta contradição:
estamos falando de uma secretaria com orçamento bilionário, de um
Estado rico e avançado tecnologicamente, que não dá a atenção necessária
para as questões expostas pelos educadores (aqui entendidos como todos
os que trabalham na Educação).
Há quase duas décadas no comando da Educação pública, a gestão
tucana tem como marcas o desencontro, a descontinuidade, a prioridade
equivocada, o gasto perdulário com a máquina, a denúncia de
superfaturamento nas compras e obras, o autoritarismo e as promessas não
cumpridas. Tristemente temos de concordar que não fariam diferente com
essa laboriosa categoria: os Agentes de Organização Escolar.
Uma escola não funciona sozinha. Para que as coisas andem, para
que as aulas aconteçam, para que a aprendizagem ocorra, a avaliação e o
registro existam, há necessidade de que um grupo de operacionais pegue
"no pesado". E eles o fazem por uma ninharia.
Neste momento, antes de iniciarmos um novo ano letivo, se faz
absolutamente necessário que o governador e seu secretário de Educação,
indicado para mais assustadores quatro anos de gestão, revejam algumas
questões da sua máquina e de seu funcionamento. Não dá para manter uma
escola com servidores operacionais da Educação num nível desalentador e
com baixos salários. Vergonhoso, vexatório, insustentável.
Com a palavra o secretário da Educação, para ações e decisões, e não para discursos e promessas.
*Carlos Giannazi é deputado estadual pelo PSOL e membro titular da Comissão de Educação e Cultura
.http://www.al.sp.gov.br/noticia/?id=361515